Título: Fiel
Autor: Jessé Andarilho
Livro lido: Editora Objetiva (1ª edição)
Páginas: 211
O
livro conta a história de Felipe, um garoto que ingressa muito cedo na vida do
crime e em pouco tempo torna-se o homem de confiança do chefe do morro, o Fiel.
Ao longo do livro, nós acompanhamos a ascensão de Felipe, um garoto muito
inteligente, habilidoso no futebol e leitor ávido de “A Arte da Guerra”, que se
torna o Fiel do chefe do morro de Antares e passa a gerenciar o tráfico local, enquanto
o chefe está fora. Ele aprende desde cedo a lidar com problemas de gente grande
e se vê cada vez mais num caminho sem volta.
“- Menor, você é foda pra caralho!
Daqui pra frente você vai ser meu fiel!”
A
história é narrada na terceira pessoa e a linguagem é simples e direta. O autor
utiliza-se de muitas gírias e de um linguajar próprio das periferias cariocas (durante
os diálogos), o que ajuda o leitor em sua imersão na história. É muito interessante
acompanhar a trajetória de Felipe. Acompanhamos de perto a relação dele com a
família, mulher e os amigos, antes e durante sua vida no tráfico. Acompanhamos suas
mudanças de personalidade e cada uma de suas decisões diante de situações cada
vez mais complicadas.
“-
Playboy viado é o caralho! Se eu não fosse quem sou, você ia me esculachar na
frente de geral. Não se importando se sou cria, morador ou viciado. Quero que
geral escute o que vou falar agora! Não quero saber de ninguém batendo nas
pessoas sem me comunicar. Se me desconsiderar, vou fazer o mesmo, também vou
desconsiderar e esse pela saco aqui vai servir de exemplo.”
Na
minha opinião, a relação de Felipe com a mãe e a namorada foi bem explorada em
alguns pontos chaves da história, principalmente as consequências trazidas para
essas relações devido a suas escolhas na vida do crime.
“As
garotas da favela passavam por uma transformação quando começavam a namorar os traficantes.
De um dia para o outro, apareciam bem-vestidas no meio da semana. O cabelo
escovado com reflexo ou luzes. Um cordão fino de ouro com uma medalhinha. Para
finalizar, um Nextel Ferrari amarelo pendurado na cintura com um suporte de
florzinha.”
Minhas
únicas críticas ao livro são: a velocidade que as coisas acontecem e as inconsistências
do protagonista. Tudo acontece muito rápido e, na minha opinião, o autor
poderia ter desenvolvido com mais calma a trajetória do protagonista. Não é
algo que comprometa a história, mas ao meu ver é algo que está intimamente
ligado à minha segunda crítica ao livro. Algumas atitudes do protagonista são
muito inconsistentes com o que você conhece do personagem até o momento e
quando ele toma uma decisão, que te surpreende e faz você achar que foi uma
virada na personalidade dele, ele volta a agir como agia anteriormente, o que
me deixou confuso quanto a construção do personagem em alguns pontos do livro.
“Suas atitudes passaram a ser
vistas como as do rei Davi na época do Antigo Testamento. Ele começou a ser
convidado para participar das guerras de sua facção, pois para ele missão dada
era missão cumprida.”
É
importante ressaltar que nenhum desses fatores citados acima tornou a
experiência do livro ruim para mim. Gostei muito da experiência de ler esse
livro e com toda certeza lerei outras obras do autor. O livro nos faz refletir sobre
muitos aspectos da sociedade em que vivemos, principalmente para quem conviveu/convive
com essa realidade, muito comum nas favelas cariocas ou na baixada fluminense.
É muito triste ver a juventude se entregando a essa vida do crime seja por uma
falta de oportunidade ou por escolha própria, mas que no fim sempre leva ladeira
a baixo e o livro nos mostra isso. Recomendo muito, por todos esses motivos apresentados
e como um apoio aos novos autores nacionais e a literatura nacional.