Título: O Homem Invisível
Título original: The
Invisible Man
Autor: H. G. Wells
Livro lido: Editora Ediouro (6ª
edição)
Tradução: David Jardim Júnior
Páginas: 219
O
livro conta a história do cientista Griffin, que após alguns experimentos descobre
a fórmula da invisibilidade e testa em si próprio, tornando-se completamente
invisível. Ele tenta tirar vantagem de sua invisibilidade, mas rapidamente percebe
que a invisibilidade traz mais desvantagens que vantagens. Tentando fugir das
pessoas normais, que agora o temem e o perseguem, Griffin começa a manifestar
um comportamento cada vez mais paranoico e agressivo, enquanto tenta se livrar
da condição que ele mesmo se submeteu.
“O
meu estado de espírito era, posso dizer, de exaltação. Sentia-me como um homem
vidente se sentiria, com sapatos de sola de borracha e sem fazer outro qualquer
ruído, em uma cidade de cegos. Veio-me uma vontade quase irresistível de
brincar, de assustar as pessoas, de bater nas costas dos outros, de arrancar
chapéus das cabeças, de tirar todo proveito da minha extraordinária vantagem.”
Boa parte da história é contada na terceira pessoa, limitado ao ponto de
vista de alguns personagens ou é contada como se fossem relatos jornalísticos em
alguns capítulos. Em outras poucas partes o livro é narrado na primeira pessoa. Assim
como outras obras de H. G. Wells, que eu tive a oportunidade de ler, a história
não é simplesmente sobre o que parece ser. Assim como o livro “A Máquina do Tempo”
não é simplesmente uma história sobre uma viagem no tempo, esse livro não é só
uma história sobre um cientista louco e invisível. Ao meu ver, o autor explora
bem os efeitos da invisibilidade no comportamento de Griffin, que já demonstrava
um comportamento agressivo e paranoico de acordo com as histórias que ele
conta, e que teve esse comportamento reforçado pelas dificuldades, assim como pelas
facilidades, que encontrou na invisibilidade. O ponto mais importante do livro,
para mim, é como o autor explora a reação da sociedade ao descobrir a
existência de um homem invisível vagando entre eles e observando-os, sem que
possa ser observado de volta.
“–
Fechem as portas, fechem as janelas,
fechem tudo, pois o Homem Invisível está chegando!”
É
muito interessante a proposta do autor de como as pessoas reagiriam a um homem
invisível. Quando não é simplesmente desacreditado, ele é o foco do temor e do
preconceito dessas pessoas. Ao descobrirem a existência do homem invisível, as
pessoas entram num estado paranoico, alimentado pelo medo do que essa criatura
pode fazer com elas a qualquer momento sem que elas possam ver ou se defender.
Esse sentimento de medo e paranoia é recíproco, o que impede um diálogo
coerente entre as partes envolvidas. Sem a possibilidade de um diálogo entre a
sociedade amedrontada e o homem invisível paranoico, inicia-se a perseguição a
criatura, que reage cada vez mais agressivamente aos seus perseguidores, o que aumenta
mais ainda a paranoia das pessoas. Essa paranoia é muito bem representada em
algumas passagens, como pode-se ver no trecho abaixo:
“Kemp
ficou pensativo por um momento. ‘Ele pode estar me observando agora’, pensou.
Aproximou-se mais da janela. Teve a impressão de ouvir uma pancada na parede, e
estremeceu.”
As
dificuldades do homem invisível também são muito bem exploradas ao longo da
história: pessoas esbarrando nele constantemente, dificuldade de se mover sem
ver os próprios membros, dificuldade de dormir já que suas pálpebras deixam a
luz passar, a comida passando visível pelo seu tubo digestivo invisível, os
resfriados adquiridos por andar nu no frio, os cachorros que perseguem seu
cheiro e o medo que as pessoas tem dele antes mesmo dele fazer qualquer coisa.
Ao longo do livro você conhece a história de Griffin e entende por tudo que ele
passou desde que iniciou seus experimentos de invisibilidade até chegar onde
ele está no início do livro. Ele se mostra o causador das situações complicadas
em que se encontra, mas ao mesmo tempo se mostra uma vítima das circunstâncias.
“O
meu estado de espírito, como é fácil de imaginar, era diferente daquele com que
eu partira, dez minutos antes. Aquela invisibilidade! A única coisa em que eu
pensava era como me livrar daquela situação em que me metera.”
Para
os que gostam de ficção científica pelo embasamento científico desse fantástico
gênero literário, o autor brinca um pouco com alguns conceitos científicos como
índice de refração e pigmentos biológicos, principalmente quando Griffin
explica sobre como chegou a sua fórmula de invisibilidade. Mesmo com as
explicações sobre a invisibilidade o foco da história está em quais seriam as
consequências da existência de um homem invisível na sociedade e não em como
seria um homem invisível verossímil. Para os que não gostam de ficção
científica, a obra tem traços de suspense suficientes para tornar a história
muito interessante, mesmo para quem não gosta de ficção científica, devido à
constante paranoia das pessoas se perguntando se estão sendo observadas pelo
homem invisível. Não deixo de pensar numa associação entre a presença do homem
invisível que pode estar ou não observando tudo e a presença de um olhar
onisciente, como presente em muitas religiões. Esse ponto também foi muito bem
explorado pelo autor em alguns trechos envolvendo o Mr. Marvel.
“Eu
o escolhi – continuou a voz. – Você é o único homem, a não ser alguns idiotas
lá adiante, que sabe que existe um homem invisível. Você tem que me ajudar.
Ajude-me, e farei muita coisa por você. Um homem invisível é poderoso. [...]
Mas, se me trair, se não fizer o que eu mandar..."
Um
clássico da ficção científica, escrito por um dos pioneiros e maiores autores dentro
desse gênero literário. Além de ser um livro curto e com uma linguagem simples.
Com certeza vale a pena ler e tirar suas próprias conclusões. Afinal, o Homem Invisível
é realmente o vilão dessa história? Ou é só mais uma vítima de seu experimento
e da sociedade que não o aceita da forma que ele é?
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